A natureza vem em primeiro plano. Os brasileiros não gostam do que é turístico, “garante Tereza Xavier, frisando que o público alvo de suas joias não se restringe ao mercado estrangeiro. As peças, consideradas de valor médio, custam R$1.1 mil cada uma e são vendidas em 10 prestações sem juros. Para produzir o primeiro lote, de 250 unidades (50 de cada), o investimento foi de aproximadamente R$180 mil, com perspectiva de retorno em um ano.
Outro trabalho da designer inspirada na identidade carioca foi desenvolvido no verão passado em parceria com a marca de biquínis Blueman. A peça é um pingente de ouro e traz o desenho de um bumbum. As vendas superaram expectativas, confirmando o gosto do carioca por esta parte do corpo. A joia foi tema de matéria no jornal espanhol El Mundo e esteve presente na inauguração da loja da Blueman em Portugual, sob o lema 500 anos depois Portugal Descobre o Brasil. “Temos que fazer algo bem brasileiro para criar um nicho de mercado internacional. As pessoas querem comprar algo diferenciado,” acredita a artista.
Uma das marcas do trabalho de Tereza Xavier é a utilização de materiais tipicamente brasileiros, estranhos à alta joalheria – com palha e sementes indígenas – misturados a outros tradicionais.
“A ideia é dar às peças a cara do Brasil, mas com requinte. Procuro a beleza dos elementos, abstraindo seu valor intrínseco”, explica.
Foi essa a receita que deu à designer o grande prêmio internacional do setor joalheiro em 1998 – O Diamond International Awards, oferecido pela De Beers, na África do Sul. A peça agraciada foi produzida em ouro, 57 diamantes e palha traçada. Esta última foi garimpada por Tereza em uma aldeia indígena de Roraima. Na verdade, trata-se de um tipo especial de palha.(“mais raro do que ouro”, afirma a estilista), cujo o uso em joalheria foi patenteado pela artista. Segundo ela, a joia resultante dessa combinação pode ser usada como pulseira, colar ou mesmo cinto. “É a mistura do que há de mais simples com os materiais mais preciosos, adequada a qualquer estilo, da moda praia ao black tie”, completa.
O ano de 1998 foi movimentado para a artista. Na Africa do Sul, ela faturou mais um prêmio, com uma linha de diamantes coloridos, ouro e palha.
A proposta era que cada concorrente homenageasse uma personalidade de seu país e o escolhido por Tereza foi Darcy Ribeiro, pelas preocupações do antropólogo com as causas indígenas. De volta ao Brasil, Tereza foi convidada pelo Governo para participar, em Paris, da exposição É Tempo de Brasil, no museu Carroussel du Louvre, concebida para expressar a diversidade cultural do País. Em 1999, os convites não cessaram. Com uma série feita a partir de sementes, Tereza participou do projeto Novos Alquimistas, do Itaú Cultural, cuja proposta é reunir artistas que desenvolverem trabalhos usando materias sem aparente utilidade.
Tereza, que também é ourives e joalheira, aprendeu os ofícios em cursos no Rio e em São Paulo, especialmente nos cursos oferecidos pela Escola Nova, na capital paulista, e garante: “Não preciso ir para outro país em busca de formação na área. O importante é trabalhar muito e dar asas à imaginação”.
Hoje em dia, Tereza não dá conta de executar todas as joias que desenha – são mais de mil modelos expostos nas lojas, muitos em peças exclusivas – mas acompanha o processo inteiro de perto, procurando garantir o padrão de qualidade à produção.
‘A idéia é dar a cara do Brasil, mas com requinte. Procuro a beleza dos elementos, abstraindo seu valor intrínseco’.