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Revista de Domingo Jornal do Brasil: Tereza e a Princesa dos Olhos Tristes

Tereza e a Princesa dos Olhos Tristes

Jornal do Brasil: Uma joalheria brasileira, pioneira das joias étnicas, premiada pela De Beers, no concurso de joias mais importante do mundo, alegrou com suas peças o olhar da “princesa dos olhos tristes”, a Iraniana Soraya, a lenda viva dos anos 50, a grande celebridade da década.

Era uma vez uma noite chuvosa em Paris, a dez anos em um jantar no Carrousel du Louvre, onde era realizada uma exposição sobre o Brasil. A joalheira Tereza Xavier tinha um stand de joias. Antes do jantar, preocupada com a segurança das peças, Tereza correu de volta ao stand. Enquanto verificava se tudo estava em ordem, ouviu em francês: “Posso vê-las? Minha querida há muito tempo não vejo joias tão lindas”. A dona da doce voz era uma senhora com olhos de um azul muito profundo. Como a exposição já estivesse fechada, Tereza ofereceu para mostrar as peças no dia seguinte. A linda mulher de olhos azuis pediu que Tereza fosse visitá-la um sua casa, levando as joias. Deixou um cartão, onde se lia: Princesa Soraya Esfandiari a famosa princesa dos olhos tristes, a princesa rejeitada do Xá do Irã!

a joalheira de Soraya Esfandiari Tereza Xavier

Tereza e a Princesa Soraya

A princesa Soraya foi dona da maior coleção particular de joias do seu tempo. Depois da sua morte, em 2001, suas joias e objetos pessoais foram leiloados, em três dias, por cerca de U$5,9 milhões, nos salões de Drouot Montaigme em Paris. Quando ela viu a coleção de Tereza, disse que eram as joias mais lindas que ja tinha visto. O melhor elogio que uma joalheira poderia receber em toda carreira.

Tereza esteve diversas vezes na casa de Soraya, em Paris, criou joias para a princesa usar em sua casa de praia no sul da França, fez para ela peças com significado, como um buquê de flores, para o pulso, como aqueles que se usavam nos bailes, todo de flores de ouro, diamantes brancos e diamantes com toques de violeta. Fez um colar onde gravou “olhai os lírios do campo, eles não tecem nem fiam…”, em inglês, como forma de reverenciar a beleza da simplicidade. A princesa adorava essa ousadia, essas fronteiras ultrapassadas. E adorava esmeraldas e diamantes amarelos. Para a princesa, Tereza teceu bordados com pedras preciosas, como no manto da Pele de Asno. O requinte da trama das joias remetia Soraya aos elementos da antiga Pérsia atual Irã. Elas se entenderam, essas duas.

Em reverência à amiga princesa Soraya, Tereza prepara, para o segundo semestre, uma nova coleção. E em breve lança seu site para que todos possam conhecer a delicadeza e a dimensão do seu trabalho de artesã. “Antes do amor vem a gratidão, e eu quero mostrar meu sentimento com esta homenagem, finaliza Tereza.

Tereza Xavier

Irreverente, Tereza foi uma das pioneiras da joalheria étnica no Brasil, ousando misturar a clássica nobreza do ouro com a rusticidade da palha, a simplicidade de uma semente da Amazônia com diamantes. Para ela, platina e uma folha encontrada na floresta tem o mesmo valor. É só agregar importância, pesquisar o encanto das pedras, construir a beleza da peça e tudo fica nobre. Quando, no Egito, encontrou uma pedra que parecia um céu estrelado que viu do observatório astronômico que costuma frequentar, fez uma série de joias com o céu.

Partindo dessa visão ela busca descobrir a beleza encoberta na natureza, como nas folhas e sementes de eucaliptos azuis e nas folhas não identificadas que ganhou de uma amiga e vai usar em uma coleção. Quando acabarem, pronto, foi! “Muitas vezes você consegue, com uma semente, um efeito muito mais bonito e interessante do que com um rubi valioso”.

Tereza se empenha em aprofundar seu conhecimento em arte que associa à sua, como astronomia, a Cabala, as proporções perfeitas da geometria sagrada. Conhece as propriedades dos metais, das pedras, numerologia e junta tudo para criar uma peça que magnetize, que energize, que embeleze. A beleza é o objetivo principal de sua arte. Ela desenha joias exclusivas para seus clientes, pois sabe que quem compra uma joia quer o objeto amado só para si. As peças são únicas.

A princesa Soraya Esfandiari

Bakhtiari, neta do chefe da tribo dos Bakhtiari, filha do embaixador do Irã na Alemanha, filha de mãe alemã, foi a segunda mulher do Xá da Pérsia, Reza Pahlevi. Mundialmente famoso por sua estonteante beleza e seus tristes olhos azuis, Soraya foi repudiada pelo Xá e sua família por não ter conseguido dar um herdeiro para a fortuna e a dinastia do marido. Os sábios do Irã sugeriram que ela aceitasse a presença de uma segunda mulher em casa. Ela preferiu o afastamento. Ganhou o título de princesa imperial, uma bela soma em dinheiro, um passaporte diplomático, e um divorcio.

Saiu do Irã aos 24 anos e nunca mais voltou a ver o Xá. O Xá teve 4 filhos, incluindo um herdeiro, com sua última mulher Farah Diba. Tudo para nada. O herdeiro nunca subiu ao trono. O Xá foi deposto em 1979, na revolução islâmica. Não foi á toa que Soraya passou a ser chamada de “A princesa dos olhos tristes. Badalava no grand monde, ia às melhores festas do mundo e tinha aos seus pés os homens mais interessantes do planeta. Viveu por 5 anos ao lado do cineasta italiano Franco Indovina, com quem chegou a filmar em As Três Faces de Uma Mulher. Ele morreu num acidente de avião. Ela lançou sua alto biografia em 1991 e viveu em Paris até a morte, em 2001, de causas naturais, aos 69 anos. Foi linda e triste até o último estante. O túmulo da princesa, enterrada no jazigo da família em Munique na Alemanha, foi violado em 2002. As pichações acusaram-na de parasita social.

Texto de HILDEGARD ANGEL